Soul Crítica Cinematográfica
- Vinicius Monteiro
- 4 de fev.
- 3 min de leitura

★★★★☆
Em Soul, duas perguntas se destacam: Você já se perguntou de onde vêm sua paixão, seus sonhos e seus interesses? O que é que faz de você... Você? A Pixar Animation Studios nos leva a uma jornada pelas ruas da cidade de Nova York e aos reinos cósmicos para descobrir respostas às perguntas mais importantes da vida. Dirigido por Pete Docter e produzido por Dana Murray.
A sinfonia da desordem: assim se inicia 'Soul', com a icônica melodia da Disney, cantada desafinada como um hino adolescente. Uma sacada genial que, desde o primeiro acorde, me prendeu à tela. A trilha sonora, uma sinergia perfeita entre o experimentalismo de Trent Reznor e Atticus Ross e a sofisticação jazzística de Jon Batiste, eleva a experiência auditiva a outro patamar, tornando a jornada de Joe Gardner ainda mais rica e emocionante.
A dupla de cineastas Matt Aspbury e Ian Megibben nos presenteia com uma experiência visual deslumbrante em 'Soul'. A fotografia fotorrealista, com suas texturas ricas e iluminação calorosa, cria uma atmosfera que nos envolve e emociona. A cada plano, somos convidados a apreciar a beleza do cotidiano, desde a pátina do tempo em uma superfície até o brilho de um alimento. Essa maestria técnica, aliada a uma narrativa profunda, transforma 'Soul' em uma celebração da vida e da arte.
A partida de 'Soul' do plano físico desencadeia uma explosão de criatividade visual. Os animadores dão vida a uma paisagem onírica, evocando o subconsciente cerebral de 'Divertida Mente'. Os conselheiros, com suas formas inspiradas em Picasso que luminescem na escuridão, conferem à narrativa um toque de inteligência, especialmente quando um deles se infiltra na vibrante metrópole de Nova York. A caracterização dos personagens humanos é ainda mais impressionante, cada um microcosmo de histórias e personalidades, reveladas em um único olhar.
Sob camadas de ideias e conceitos, jaz enterrada uma narrativa clássica, aguardando ser desenterrada. Docter, em sua busca por uma obra abrangente, poderia ter esculpido um musical agridoce, explorando as frustrações de um professor apaixonado pelo jazz. Alternativamente, poderia ter criado uma comédia metafísica, sondando os mistérios da criação humana. Até mesmo uma farsa mais leve, com um protagonista felino, poderia ter sido uma escolha intrigante. No entanto, ao tentar abarcar tudo isso simultaneamente, corre o risco de diluir a profundidade de cada uma dessas possibilidades.
O roteiro de 'Soul' ambiciona abarcar múltiplas dimensões, tecendo uma narrativa complexa que, por vezes, desafia a compreensão imediata. Embora evite o emaranhado narrativo que sua sinopse poderia sugerir, a profundidade de suas propostas se mostra limitada. A tentativa de conciliar três filmes em um resulta em uma jornada com desvios inesperados, que, por momentos, distanciam o espectador da trama principal. Para uma premissa tão rica, 'Soul' surpreende pela leveza com que aborda temas profundos.
A animação 'Soul' apresenta uma receita equilibrada para conquistar públicos de todas as idades. As crianças se divertirão com a farta dose de humor físico, situações absurdas e personagens atrapalhados que garantem boas gargalhadas. Já os adultos encontrarão um convite à reflexão sobre a vida e o propósito, inserido de forma sutil entre as cenas mais leves. O filme demonstra maestria ao dosar momentos de pura comédia, que mantêm o ritmo ágil, com passagens mais contemplativas, que instigam a mente.
Pioneiro ao apresentar um protagonista negro, 'Soul' da Pixar é um filme visualmente deslumbrante que explora as profundezas da alma humana. A narrativa, embora rica em ideias e emoções, apresenta uma complexidade que pode dividir opiniões. A jornada existencial proposta é bela e tocante, mas a coesão de suas diversas temáticas pode parecer desafiadora para alguns espectadores. Apesar disso, 'Soul' se destaca como uma obra de arte animada que convida à reflexão sobre o significado da vida.
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