A Cadeira de Prata Resenha
- Vinicius Monteiro
- 15 de mar. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.
★★★★☆
Através de perigos incontáveis e cavernas profundas e escuras, o grupo de nobres amigos persegue na missão que os deixam cara a cara com um mal mais belo e mortal do que eles jamais poderiam esperar.
Em 1953 'A Cadeira de Prata' se tornava o quarto livro publicado e o sexto em ordem cronológica da série 'As Crônicas de Nárnia'. A busca por Rilian leva Jill e Eustáquio a aventuras bem inusitadas e perigosas. Os dois embarcam em uma aventura cheia de perigos e descobertas que se desenrola cheia de suspense. Sem dúvida descobrimos mais sobre esse mundo fantástico e seus inimigos.
C. S. Lewis consegue transmitir inúmeras emoções ao longo dos dezesseis capítulos. A narrativa de 'A Cadeira de Prata' é leve e bem focada se compararmos com outros volumes da série. As cenas que seriam mais chocantes ou tristes são contadas de uma forma mais acessível ao público mais novo sem perder a naturalidade.
As aventuras aqui causam uma certa indignação, os aventureiros fazem burrada atrás de burrada e isso é bem irritante. Eu tenho que concordar que estamos acompanhando crianças e que se levemos mais a fundo, estamos falando de humanos, que são pessoas falhas, mas 'As Crônicas de Nárnia' já nos presenteou personagens mais legais.
Esse volume parece trazer muitas referências em sua aventura e inimigos de outras narrativas. A sensação que dá ao ler 'A Cadeira de Prata' é de Déjà Vu, apesar de seus novos personagens, a estrutura narrativa é muito parecida com as obras anteriores da série. Um bom exemplo disso, é a Feiticeira Verde que traz uma atmosfera muito parecida com a Feiticeira Branca de 'O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa'.
Dos personagens já conhecidos quem retorna é Eustáquio Mísero, o primo inconveniente dos Pevensie que após a jornada no 'Peregrino da Alvorada' passa por uma transformação pessoal. Parte de sua nova faceta transparece quando ele encontra Jill Pole, uma garota que estuda com ele em um “colégio experimental”, onde os alunos podem fazer o que quiserem. Vítima de bullying, Jill passa a maior parte do tempo fugindo dos outros alunos, e é num desses momentos quando se esconde atrás de alguns arbustos que, após um tropeço de Eustáquio, eles começam a conversar.
Um outro problema de 'A Cadeira de Prata' é a falta de carisma de seus personagens principais, Eustáquio passou por uma incrível evolução do livro anterior, porém é difícil se desprender completamente de sua imagem esnobe inicial.
A personagem Jill é o que mais me irritou nessa obra, ela é uma personagem muito sofredora que por pura necessidade e a muito custo consegue completar sua missão, esforço que prova que sua melhor característica é sua natureza humana, foi muito difícil comprar a ideia dessa personagem.
O melhor personagem a meu ver é Brejeiro, pois seu pessimismo crônico é cômico, dá equilíbrio e fortalece os demais personagens, ele é o personagem com a voz da razão, mas no geral nenhum personagem me cativou muito neste volume.
'A Cadeira de Prata' vai trazer referências ao mito da caverna, de Platão, retratado quando Eustáquio, Jill e Brejeiro vão parar no Reino Profundo, um mundo subterrâneo onde os habitantes, chamados de terrícolas, vivem escravizados e subjugados pela Feiticeira Verde, a única que possui livre acesso ao Mundo de Cima. Todos os habitantes se acostumaram a viver com pouca ou praticamente nenhuma luz, ilustrando que a falta do conhecimento sujeita as pessoas à dominação.
O feitiço lançado sobre Rilian exemplifica como as aparências podem enganar e escravizar sem que nos apercebemos disso. Alguns desejos humanos normais, quando manipulados pela mídia, religião, política etc., nos tornam escravos do consumismo, fanatismo e de outras idéias que dominam sutilmente a mente.
As referências cristãs deste volume estão na própria saga da procura e do retorno do príncipe herdeiro ao trono retrata implicitamente a volta de Cristo. Eu achei 'A Cadeira de Prata' uma história muito semelhante a de uma fábula, talvez por ser um dos poucos romances da série criada por C. S. Lewis que não envolva uma guerra. Esse volume se consolida por sua pura magia, uma obra incrível e bastante reflexiva, mas não é um dos meus melhores volumes de 'As Crônicas de Nárnia'.
Comments