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A Substância Vale a Pena Assistir?

  • Foto do escritor: Vinicius Monteiro
    Vinicius Monteiro
  • há 15 horas
  • 3 min de leitura
A Substância Crítica

Já se imaginou trocando de corpo com uma versão mais jovem e perfeita de si mesmo? A promessa sedutora de "A Substância" nos lança nessa fantasia sombria, mas o que encontramos ao atravessar o espelho é um reflexo perturbador da nossa obsessão pela juventude. Prepare-se para uma imersão visceral e inesquecível, porque este filme não vai te deixar indiferente.


Em "A Substância", acompanhamos a derrocada de Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma ex-guru do fitness televisivo descartada pela emissora. Desesperada por um recomeço, ela se aventura no submundo de uma droga experimental que replica suas células, criando temporariamente uma versão mais jovem e "aprimorada" de si mesma (interpretada por Margaret Qualley). A regra é simples: uma semana para cada versão, um equilíbrio precário entre o presente e um passado glorificado.


 

Coralie Fargeat nos entrega uma obra cinematográfica singular, que transita com desenvoltura entre o terror visceral e a comédia ácida, como um bisturi afiado cortando as camadas da nossa vaidade. Sua premissa engenhosa ecoa "O Retrato de Dorian Gray" em uma clave contemporânea, enquanto promove uma dissecação incisiva da idolatria hollywoodiana pela juventude eterna e pela beleza idealizada. Mesmo que o terceiro ato se perca em desvios e a duração se estenda além do ideal, a experiência é inegavelmente um mergulho perturbador e memorável.


A forma como o filme nos introduz à decadência de Elisabeth Sparkle é magistralmente alegórica. Em vez dos clichês de retoque digital, vemos sua estrela na Calçada da Fama se deteriorando sob a ação do tempo e do tráfego incessante, um prenúncio pungente da temática central: a alegoria visual permeia toda a narrativa. Demi Moore se entrega à autenticidade de sua idade, oferecendo uma meditação profunda sobre as inseguranças do envelhecimento em um meio implacável com o passar dos anos no rosto feminino.


 

O uso da cor é notável, contrastando o vibrante reino de Sue com o sombrio universo de Elisabeth. Essa dicotomia visual atinge seu ápice no banheiro, palco de atos sangrentos nos bastidores, onde o branco clínico intensifica o choque do vermelho escarlate. Em um crescendo estilístico, uma cena de banho carmesim beira o grotesco, nos forçando a confrontar a violência de forma explícita.


A nudez, tanto de Moore quanto de Qualley, inicialmente integral e natural, evolui para o uso de próteses, desvinculada de qualquer erotização gratuita. Fargeat a utiliza como um prenúncio da exploração das vulnerabilidades e inseguranças inerentes à beleza confrontada pelo tempo. Paralelamente, as atrizes exploram a arrogância juvenil, a superficialidade da "It girl" do momento, desnudando a crueldade que pode acompanhar o auge da juventude e da desejabilidade.


 

"A Substância" nos confronta com uma audácia desconcertante, manejando terror visceral e comédia macabra com uma precisão quase insana. Longe de gargalhadas fáceis, o filme nos oferece inúmeras oportunidades para sorrisos irônicos e cumplicidade silenciosa com seu humor peculiar, que reside muitas vezes em momentos de violência íntima e perturbadora.


Com seus 141 minutos, o filme por vezes cede à redundância narrativa, especialmente no ato final. Ocasionalmente, dissonâncias tonais perturbam a fluidez da experiência. No entanto, as performances magnéticas de Moore e Qualley nos oferecem um incentivo poderoso para negligenciar esses tropeços. A resolução culmina em uma sequência que oscila entre o hilário e o visceral, um espetáculo "pegajoso" em sua natureza crua e impactante.


 

Em última análise, "A Substância" é uma obra singular, que se distancia da mesmice e captura pela originalidade. Embora sua mensagem não seja inédita, a audácia com que explora seus limites temáticos e visuais a torna memorável. Se vale a pena assistir? Sim, se você busca uma experiência cinematográfica que te desafie, te perturbe e te faça refletir sobre a nossa obsessão pela juventude e beleza. Prepare-se para o desconforto, para o humor ácido e para performances viscerais. "A Substância" não é para todos, mas para aqueles dispostos a mergulhar em sua bizarrice, oferece uma jornada inesquecível e perturbadoramente relevante.




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