Cassandro Crítica Cinematográfica
- Vinicius Monteiro
- 7 de jan.
- 3 min de leitura

★★★☆☆
"Cassandro" segue Armendáriz (García Bernal), um lutador de luta livre que ganha destaque quando muda do tradicional lutador super-masculino para lutar como um exótico, um lutador drag masculino. Com a ajuda de sua treinadora Sabrina (Roberta Colindrez) e o apoio de sua família e entes queridos, Armendáriz chega à fama.
A jornada de Roger Ross Williams com a história de Cassandro começou em 2016, com um documentário para o The New Yorker. Vislumbrado pela singularidade do lutador, o diretor aprofundou-se na narrativa e, em parceria com David Teague, transformou a curta-metragem em um filme biográfico completo. “Cassandro” é, portanto, um tributo ao pioneiro da luta livre que tanto inspirou Williams.
A cinebiografia de Cassandro contrasta a exuberância do personagem com uma abordagem mais introspectiva. Enquanto os momentos no ringue são visualmente impactantes, é a performance visceral de Gael García Bernal que nos conecta com a alma de Saúl Armendáriz, revelando as nuances de um homem que buscava aceitação e afirmação através da luta livre.
A abordagem de Williams para “Cassandro” é convencional e carece de inovação. Embora o filme mantenha um ritmo consistente, ele não aprofunda as nuances psicológicas dos personagens nem explora o rico universo cultural que serve de pano de fundo. A direção, por vezes, parece mais preocupada em seguir uma fórmula segura do que em oferecer uma visão autêntica e envolvente do tema.
O filme “Cassandro” busca equilibrar múltiplas narrativas: a descoberta da sexualidade de Armendáriz, a complexidade de sua identidade cultural, marcada pela fronteira entre os Estados Unidos e o México, e a ascensão de sua persona como lutador excêntrico. No entanto, ao tentar abarcar tantos temas, a obra acaba diluindo alguns deles. A dinâmica familiar, por exemplo, poderia ser mais explorada, assim como a evolução da identidade de Cassandro ao longo de sua carreira. A ausência de um aprofundamento maior nesses aspectos impede que o filme explore todo o potencial da história de um ícone da luta livre.
Bad Bunny revela um talento nato para a atuação, tornando esta cinebiografia uma grata surpresa. A química entre o elenco é evidente, com García Bernal e Raúl Castillo entregando performances sólidas. O filme é uma jornada divertida e emocionante, que certamente agradará aos fãs do artista e do gênero.
A década de 80 serve de pano de fundo para um filme que nos leva aos confins empoeirados de El Paso e às vibrantes arenas de luta livre improvisadas em lojas de automóveis. A imagem granulada e a proporção quase quadrada da tela evocam a estética dos vídeos caseiros, transportando-nos para o coração da ação. A ausência de uma trilha sonora convencional e a predominância dos cânticos da multidão e dos sons das pancadas criam uma atmosfera crua e realista. A decisão de Williams de intercalar as cenas de luta com imagens capturadas pela plateia intensifica a sensação de estarmos vivenciando aqueles momentos junto à multidão, tornando a experiência ainda mais visceral.
A expectativa de um filme sobre um lutador gay como Cassandro, com sua persona exuberante, é que a tela seja um festival de cores e energia. “Cassandro” entrega parte disso, mas as sequências de luta livre, que deveriam ser o ápice visual, parecem subutilizar o potencial estético do personagem. A maquiagem intensa e os figurinos vibrantes de Cassandro se perdem no ringue, e a luta final, em um palco grandioso, carece do brilho e da emoção que o momento exige. A comparação com a artificialidade exagerada de outras cenas torna a falta de vivacidade dessas sequências ainda mais evidente.
Armendáriz forjou um personagem tão exuberante que clamava por uma cinebiografia à altura. A escolha por uma abordagem biográfica mais tradicional, embora possa parecer conservadora, amplia o alcance da história. Ao invés de alienar o público com experimentações, o filme opta por uma narrativa mais acessível, garantindo que a trajetória inspiradora de Cassandro alcance um público mais amplo. “Cassandro” é, em essência, um retrato comovente de um indivíduo que, através da luta livre, encontrou sua voz e abriu portas para a comunidade LGBTQIA+. A história, embora centrada no homem por trás da máscara, oferece reflexões profundas sobre identidade, aceitação e o poder transformador da arte.
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