De Volta à Ação Crítica Cinematográfica
- Vinicius Monteiro
- 11 de abr.
- 4 min de leitura
★★☆☆☆
'De Volta à Ação' é um filme de comédia de ação americano de 2024, dirigido por Seth Gordon. A trama acompanha os ex-agentes da CIA, Emily e Matt, que deixaram suas carreiras para trás para construir uma família. No entanto, suas identidades secretas são reveladas, forçando-os a retornar ao perigoso mundo da espionagem para proteger suas vidas e tudo o que amam.
A despedida de Cameron Diaz das telas, em 2014, deixou um vazio no cinema. A atriz, que outrora irradiava magnetismo em obras como "Quero Ser John Malkovich", "O Casamento do Meu Melhor Amigo" e "Quem Vai Ficar com Mary?", encerrou sua trajetória com uma trilogia de filmes de qualidade questionável, prenunciando um declínio em sua carreira. Diaz, que transitava com maestria entre o drama e a comédia, o independente e o mainstream, parecia ter diluído seu brilho único em prol de um estrelato genérico e lucrativo.
Pouco tempo depois, anunciou sua aposentadoria, talvez compartilhando do desapontamento do público com a qualidade de seus últimos trabalhos. O anúncio de seu retorno, após uma década dedicada à família e a uma marca de vinhos orgânicos, surge em um momento crucial para a indústria, que busca novas estrelas capazes de preencher o vácuo deixado pelas veteranas. A Netflix, lar de sucessos de colegas como Adam Sandler, Jennifer Lopez e Jessica Alba, pareceu o palco ideal para o retorno de Diaz, ao lado de seu parceiro de "Annie", Jamie Foxx, em uma comédia de ação com apelo popular.
Longe de ser uma voz isolada, a crença na comédia de ação como fórmula de sucesso ecoa em Hollywood. Uma constelação de duplas estelares, como Chris Evans e Ana de Armas, Emily Blunt e Ryan Gosling, John Cena e Alison Brie, Kaley Cuoco e David Oyelowo, Halle Berry e Mark Wahlberg, e Michelle Monaghan e Mark Wahlberg, sucumbiu ao fascínio desse gênero. No entanto, a crítica, notavelmente cética, raramente compartilhou do entusiasmo (com a exceção de Gosling e Blunt em "The Fall Guy"). A repetição exaustiva da equação "piadas, tiros e beijos" beira o insuportável para os espectadores mais atentos. A priorização do brilho superficial de astros e estrelas, em detrimento da qualidade narrativa, é um sintoma alarmante. Se ao menos uma parcela dos salários astronômicos dos protagonistas fosse investida em consultoria de roteiro, talvez o público pudesse desfrutar de uma experiência cinematográfica mais gratificante.
A premissa de um filme como "De Volta à Ação" deveria ser, por definição, antagônica ao tédio. No entanto, o enredo de espionagem, tecido com uma simplicidade quase caricatural, revela-se genérico e desprovido de qualquer fascínio, culminando em uma experiência cinematográfica onde a emoção e a surpresa se ausentam por completo. A previsibilidade se instala como protagonista, com cada reviravolta e diálogo se revelando com uma antecedência exasperante, enquanto a sensação de perigo e aposta genuína se esvaem no vazio. Nem mesmo as sequências de ação, executadas com inegável competência e, por vezes, com uma coreografia de luta notável, conseguem desviar o olhar do vazio narrativo que assola o cerne da produção. A repetição exaustiva de clichês e tropos conhecidos transforma a experiência em um exercício de paciência, onde as duas horas de duração parecem se estender indefinidamente.
A fragilidade da narrativa se agrava ainda mais quando se analisa o desenvolvimento dos elementos emocionais. Apesar da reunião de um elenco talentoso, a tentativa de conferir profundidade e complexidade aos personagens se mostra infrutífera. Os estereótipos se consolidam desde o primeiro contato, e a evolução dos personagens se limita a uma jornada previsível, onde a suposta profundidade se revela como um mero artifício para impulsionar o enredo. A previsibilidade se torna a marca registrada, transformando o filme em um exercício de previsibilidade, onde cada cena e diálogo se revelam como ecos de narrativas já exploradas à exaustão.
Glenn Close demonstra um deleite palpável ao personificar Ginny, a matriarca de Diaz, cuja dinâmica com o desajeitado e jovem Nigel (Jamie Demetriou) se destaca como o ápice cômico do filme, ainda que em um contexto de escassez de momentos hilariantes. A tensão entre Emily e Ginny, no entanto, ressoa com uma superficialidade gritante, e a tentativa de traçar um paralelo intergeracional entre esse conflito e a relação de Emily com sua própria filha se perde em uma simplificação lamentável.
O cerne do problema reside na ausência de profundidade e autenticidade nos arcos emocionais, que se revelam meros artifícios para justificar as sequências de ação subsequentes, todas elas previsíveis e desprovidas de originalidade. As cenas de luta em clubes noturnos, aeronaves e eventos de gala black-tie se repetem em um ciclo exaustivo de clichês. O filme, que prometia subverter as convenções do gênero com sua premissa inovadora, opta pela segurança do lugar-comum, recorrendo a cenários e padrões já consagrados, em vez de ousar na criação de algo genuinamente novo.
"De Volta à Ação" se encontra em um limbo narrativo, sem se comprometer com um gênero específico, o que resulta em uma obra insípida e paradoxalmente intrigante. Ao tentar abraçar todas as audiências, acaba por não cativar nenhuma em particular. Os personagens adolescentes, unidimensionais e carentes de desenvolvimento, não conseguem estabelecer uma conexão com o público mais jovem. Embora o filme seja tecnicamente adequado para uma sessão familiar, a falta de profundidade dos personagens dificulta o engajamento. Da mesma forma, as cenas de ação e romance, excessivamente brandas e diluídas, não satisfazem as expectativas de um público adulto em busca de entretenimento mais intenso. "De Volta à Ação" possui todos os elementos para se tornar uma excelente comédia familiar ou um drama de espionagem com classificação indicativa mais alta. No entanto, a hesitação do filme em se dedicar plenamente a qualquer um desses caminhos levanta a questão: qual é o público-alvo pretendido?
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