Deslocamento: Um Diário de Viagem Resenha
- Vinicius Monteiro
- 14 de nov. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 23 de dez. de 2024

★★★☆☆
Lucy Knisley nunca imaginou que iria escapar do inverno frio de Nova York a bordo de um navio de cruzeiro para o Caribe. Mas quando seus avós idosos planejam uma fuga tropical, Lucy decide acompanhá-los, e nada sai como ela esperava. Durante os sete dias do cruzeiro, Lucy descobre mais sobre si mesma e sua família do que aprendeu durante uma vida inteira. Lidando com a decadência física e mental dos avós que tanto adora, ela é obrigada a confrontar seus próprios medos, anseios e expectativas, navegando pelas delicadas nuances que compõem as relações duradouras, a velhice, o amor e o cuidado.
Em seus quadrinhos autobiográficos, Lucy Knisley aparece com pé no chão, humilde e acima de tudo grata por sua constituição emocional robusta. A autora parece determinada a lutar contra sua flutuabilidade natural, expondo-se a novos testes apenas para manter as pessoas lendo. Esse parece ter sido um fator-chave por trás de sua decisão de escoltar seus avós de 90 e poucos anos em um cruzeiro de luxo de uma semana, uma viagem que ela narra em 'Deslocamento: Um Diário de Viagem'.
Tudo soa estranho nesse quadrinho, digo isso no mal sentido mesmo. Como leitor, é difícil dizer se você deve sentir pena ou orgulho dos esforços de Lucy Knisley. Assim como a autora não consegue decidir se foi 'boa' por se oferecer para cuidar dos avós ou 'má' por querer ser vista como boa. Eu confesso que a atitude da autora me deixou distante dos propósitos de sua obra, já logo no começo.
Totalmente sem humor, (pelo menos eu não ri em nenhum momento da leitura) Lucy Knisley passa toda a viagem do cruzeiro reclamando, exausta e quase sempre à beira de um colapso nervoso. O que eu não esperava nessa HQ, era que ela seria tão chata, afinal a obra acabou sendo sobre a autora e não sobre seus avós.
Outro ponto estranho de 'Deslocamento: Um Diário de Viagem' é que Lucy Knisley não é exatamente muito próxima de seus avós Phyllis ou Allen, então há pouca interação entre eles, especialmente devido ao fato de que o casal também está perdendo lentamente suas memórias para a demência. A história deveria ter sido mais aprofundada na vida de Phyllis ou Allen, a obra inteira teria sido mais interessante.
É impressionante que as partes mais memoráveis de 'Deslocamento: Um Diário de Viagem' não sejam autobiográficas. Na tentativa de tornar o leitor mais familiarizado, temos uma história paralela onde Lucy Knisley lê as memórias de seu avô de seus dias na Segunda Guerra Mundial como piloto de caça. As histórias de Allen são um caleidoscópio perfeito da experiência humana: violentas, engraçadas, tristes e surpreendentes. A única coisa sobre a vovó Phyllis, é de que ela já foi uma professora rígida.
A escrita de Lucy Knisley é muitas vezes muito introspectiva e depende menos de uma narrativa de ações e mais da jornada emocional que ela está vivenciando. A autora é talentosa em sua arte, com linhas limpas, figuras atraentes e um bom olho para resumir momentos em ilustrações dispersas. Seus romances gráficos evitam a grade de quadrinhos padrão para uma página mais aberta que acho acolhedora e perspicaz, principalmente quando se trata da variedade de sentimentos envolvidos. As ilustrações e os textos se juntam de uma maneira muito dinâmica e viva, a leitura ganha movimento com o estilo de Lucy Knisley.
Não fiquei tão impressionado assim com 'Deslocamento: Um Diário de Viagem'. Não acontece muita coisa no livro, é apenas um vislumbre da vida de qualquer pessoa cuidando de um casal de velhos, só que este acontece em um barco no Caribe. O quadrinho faz sim com que o leitor pense e reflita sobre sua própria mortalidade e sua reação à mortalidade dos outros.
'Deslocamento: Um Diário de Viagem' tem uma arte que deixa você preso na obra, mas Lucy Knisley não deixa claro a sua proposta e o objetivo de sua obra. A sua visão é chata e um pouco duvidosa, ele se ofereceu para viajar com avós na intenção de gerar um conteúdo, ele passa o tempo inteiro reclamando e seus avós ficam completamente em segundo plano e suas próprias histórias. Eu fiquei bastante desapontado com essa HQ.
Comments