O Natal de Hercule Poirot Resenha
- Vinicius Monteiro
- 12 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 27 de dez. de 2024

★★★☆☆
Quando o abastado Simeon Lee convidou seus quatro filhos e respectivas esposas para o Natal, não tinha em mente um reencontro caloroso. A ocasião era apenas um pretexto para anunciar, em meio a vociferações e insultos, que seu testamento seria alterado após as celebrações. Mas as queixas não se mantêm por muito tempo. Depois do jantar, os convidados escutaram um estrondo e um grito ensurdecedor. Ao chegarem no quarto de Simeon, encontram seu corpo coberto de sangue e a mobília do quarto revirada. Mas como descobrir o assassino de um homem que cultivou inimigos a vida inteira? Somente Hercule Poirot poderá responder a esta pergunta.
Nada como um homicídio para animar as festas, não é verdade? A família Lee, com suas disfunções e personalidades nada agradáveis, serve como o cenário perfeito para um crime brutal, mas elegantemente executado. Agatha Christie, com sua maestria, evita os detalhes mais gráficos, deixando ao leitor a tarefa de desvendar o enigma de um assassinato cuja engenhosidade só é revelada no clímax da trama.
Simeon Lee, um homem recluso e de saúde frágil, vivia isolado em seu quarto, cuidado apenas pelo filho mais velho e sua nora. Conhecido por seu temperamento difícil, Lee havia afastado a maioria de seus filhos. No entanto, para surpresa de todos, convocou uma reunião familiar para o Natal. A celebração, porém, foi abruptamente interrompida pela trágica descoberta de seu corpo sem vida, em um quarto trancado, na véspera da noite mais feliz do ano. Um mistério envolto em sombras pairava sobre a família Lee.
Para a felicidade de todos, Hercule Poirot, o célebre detetive belga, encontra-se nas proximidades durante o período natalino. Acordando em auxiliar a polícia em suas investigações, o perspicaz belga dedica-se a conduzir entrevistas minuciosas. Contudo, nem todos os interrogados demonstram sinceridade, cabendo a Poirot, com sua notável capacidade de discernimento, desvendar a verdade por trás das falas e desvendar o intrincado enigma.
Embora "O Natal de Hercule Poirot" apresente o clássico enigma de Agatha Christie com sua reviravolta surpreendente, a atmosfera da narrativa diverge do tradicional espírito natalino. Longe de um conto acolhedor e generoso, a obra mergulha em um clima tenso e repleto de segredos, surpreendendo aqueles que esperavam uma leitura mais festiva.
A obra, promissora no início, perde fôlego com o excesso de diálogos, tornando o ritmo mais lento e revelando uma repetitividade que antes passava despercebida. A ausência de um narrador onisciente, que conta as histórias sob a perspectiva dos personagens, cria uma névoa de incerteza sobre a veracidade dos fatos.
A fim de manter a simplicidade da trama, o romance "O Natal de Hercule Poirot" apresenta um elenco reduzido de personagens, cada qual com características marcantes. A falta de desenvolvimento aprofundado desses indivíduos exige que sejam um tanto caricatos, o que, por sua vez, demanda do leitor uma maior suspensão de descrença para aceitar a perfeição com que os eventos se encaixam.
A distinta falta de Poirot na primeira metade da história foi uma decepção. Enquanto a construção dos personagens da família Lee e do cenário foi fundamental para a trama, senti falta daquela agilidade mental e do humor irônico que marcam as investigações do famoso detetive belga. O contraste entre a expectativa de um mistério conduzido por Poirot e a realidade de uma narrativa mais focada nos personagens foi marcante.
O gênero mistério, apesar de popular, não me agrada. A ênfase excessiva em enigmas e resolução de crimes, em detrimento do desenvolvimento dos personagens e da construção de um mundo rico, me distancia dessa literatura. Por mais que admire o talento de Agatha Christie, esse livro, como tantos outros do gênero, não conseguiu me envolver emocionalmente.
A leitura é bastante agradável, e o mistério tece uma trama intrigante. O problema reside no desfecho, que, apesar de surpreendente, não me convenceu totalmente. A ambientação natalina, embora seja o pano de fundo da história, fica um pouco em segundo plano. Achei que a obra poderia explorar mais os costumes e a magia dessa época do ano.
A atmosfera natalícia e a dinâmica familiar tensa são ingredientes que agradam aos fãs de mistério em "O Natal de Hercule Poirot". No entanto, o enredo, que explora a fórmula da mansão isolada e dos segredos familiares, pode parecer familiar para os leitores habituados a tramas semelhantes. Apesar disso, a maestria de Agatha Christie na construção de personagens e a atmosfera envolvente do romance compensam a previsibilidade da trama.
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