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Pinóquio por Guillermo del Toro Crítica Cinematográfica

  • Foto do escritor: Vinicius Monteiro
    Vinicius Monteiro
  • 13 de abr.
  • 4 min de leitura

Atualizado: há 2 dias

Pinóquio por Guillermo del Toro Crítica

★★★★☆


“Pinóquio por Guillermo del Toro" é uma releitura sombria e mágica do clássico conto de fadas de Carlo Collodi. Situado na Itália fascista dos anos 1930, o filme acompanha a jornada de Pinóquio, um boneco de madeira que ganha vida e embarca em uma aventura extraordinária. Guiado por seu grilo falante, Sebastian J. Cricket, Pinóquio enfrenta perigos e desafios, descobrindo o significado de ser humano e o poder do amor. Com uma animação em stop-motion deslumbrante e uma narrativa emocionante, Guillermo del Toro nos transporta para um mundo de fantasia e beleza, onde a magia se mistura com a realidade.


 

A narrativa de Pinóquio, outrora encantadora, parece ter sido exaurida pela repetição incessante. A história do boneco de madeira que almeja a humanidade, concebida pela mente de Carlo Collodi, transformou-se em um clichê desgastado, vítima de inúmeras adaptações que, em sua maioria, falharam em capturar a essência da obra original.

 

Embora a animação da Disney de 1940 e a releitura futurista de Steven Spielberg, "Inteligência Artificial", tenham demonstrado o potencial da história, os últimos anos foram marcados por tentativas desastrosas de reviver Pinóquio. O remake live-action da Disney, com sua estética perturbadora, e as duas versões estreladas por Roberto Benigni, são exemplos de como a falta de originalidade pode macular um clássico.


 

No entanto, em meio a essa maré de mediocridade, surge a figura de Guillermo del Toro, um cineasta conhecido por sua capacidade de reinventar contos de fadas. Em sua versão de Pinóquio, del Toro nos convida a explorar a história sob uma nova perspectiva, revelando nuances e profundidades que haviam sido negligenciadas em adaptações anteriores. Sua visão, ao mesmo tempo sombria e poética, resgata a magia da obra de Collodi, demonstrando que, nas mãos de um mestre, até mesmo a história mais repetida pode florescer com nova vida.

 

Guillermo del Toro, ao imprimir sua marca autoral na narrativa, distancia-se das adaptações convencionais. A atmosfera que permeia o filme evoca mais a densidade de "A Espinha do Diabo" do que a leveza da Disney, transportando o conto de Collodi para um universo sombrio e visceral, onde a beleza e a crueldade se entrelaçam.


 

As nuances narrativas introduzidas por Guillermo del Toro em sua releitura de Pinóquio transcendem a mera adaptação, infundindo a fábula clássica com uma profundidade sombria e transformadora. Ao situar a história em um contexto fascista, o diretor mexicano amplifica os temas da mortalidade iminente e da coragem de viver sem medo, conferindo ao pequeno boneco de madeira uma aura de ousadia subversiva. A alteração sutil, porém significativa, no desfecho da trama, culmina em uma conclusão de ressonância emocional muito mais profunda do que as versões convencionais.

 

Em um audacioso brado de independência cinematográfica, a estética do filme se ergue como um espelho da própria narrativa. Inspirado pela visão singular e excêntrica do artista Gris Grimly, o Pinóquio de del Toro emerge como uma criatura grotesca e fascinante, moldada pela fúria e pela transgressão. Uma amálgama de madeira e disformidade, suas unhas brotam aleatoriamente, e uma única orelha se destaca em sua face assimétrica.


 

A singularidade se estende aos demais personagens, cada um imbuído de uma idiossincrasia que os torna inesquecíveis. A Fada Azul, outrora etérea, agora se manifesta como uma gárgula divina, um ser de madeira benevolente interpretado por Tilda Swinton, que também empresta sua voz à sua irmã sombria, a Morte. Ambas ostentam asas cravejadas de olhos cintilantes, criaturas arrepiantes que conduzem o filme a um reino metafísico onde o sublime e o macabro se entrelaçam.

 

A arte da nuance se manifesta com intensidade, capaz de provocar um desmaio da alma. A profundidade do olhar de um padre contrasta com a severidade de suas maçãs do rosto. Fragmentos de luz solar, como lâminas, atravessam o sótão de Gepeto, revelando as costelas de um cão em sua fragilidade. A composição é um mosaico de irregularidades, um reflexo da própria natureza do filme. Talvez seja essa a essência da obra: um hino à imperfeição que, paradoxalmente, não busca a perfeição. A trilha sonora, embora tocante, por vezes soa deslocada, e a narrativa nem sempre atinge o ápice da emoção desejada. Contudo, o filme encontra sua redenção no clímax, um desfecho de rara beleza e profundidade, que se distancia da obra original de Collodi para explorar a complexidade da condição humana.


 

Em um desenrolar de duas horas que primam por uma indulgência sutil, sem jamais resvalar no enfado, somos presenteados com um raro exemplar de entretenimento infantil. A obra não se furta em lançar as crianças em um estado de perplexidade, equiparando-a ao puro encantamento, culminando em uma coda que evoca reflexões de cunho existencial em tenra idade. A jornada emocional é pontuada por momentos de melancolia, expressos na imagem pungente de um inseto inerte em um esquife de caixa de fósforos, repousando no âmago de madeira - paradoxalmente palpável - de um menino. Trata-se de um mergulho vívido e pródigo no insólito, uma experiência que transcende a mera descrição, convidando à fruição direta. "Pinóquio", em sua essência, sempre se pautou por essa transgressão do ordinário.


 

A maestria de del Toro se manifesta na riqueza de sua imaginação macabra, que transita com fluidez entre o sonho e o pesadelo, criando um universo visualmente deslumbrante e perturbador. Em contraposição ao insípido remake live-action da Disney, lançado no mesmo ano, a versão do cineasta mexicano se destaca como uma obra-prima da animação, superando a concorrência em todos os aspectos. A única ressalva reside na inclusão de canções, que, apesar de bem produzidas, carecem de memorabilidade, destoando da qualidade geral da produção.








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