Quando eu Vim-me Embora Resenha
- Vinicius Monteiro
- 24 de jul. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de abr. de 2024

Esse texto pode conter possíveis SPOILERS.
Sinopse: Sonhos, frustrações, dificuldades, preconceito e, também, ascensão social, sucesso financeiro, vitória. A história da migração nordestina para os estados do Sudeste do Brasil carrega esses e outros elementos. Entre as décadas de 1930 e 1980, milhares de pessoas abandonaram a terra onde nasceram e foram para outro estado – que, para elas, era como se pertencesse a outro país: São Paulo era outro mundo, tinha outra forma de organização, de lutas, de sociabilidade, de trabalho e até mesmo de falar o português.
Resenha: O autor Marco Antonio Villa leva-nos a conhecer a vida dos migrantes nordestinos rumo à região de São Paulo e a falta de perspectiva no Nordeste que moveu uma vasta massa de pessoas procurando por um futuro melhor.
A história da migração nordestina começa com a seca do Ceará, que matou cerca de 600 mil pessoas, entre 1877 e 1879. Assim, o fluxo de pessoas na década seguinte, as quais migraram para São Paulo, foi grande. Além da seca, a pouca modernização do Nordeste para com o âmbito industrial também contribuiu para muitos saírem de lá.
O livro não só narra um contexto histórico, mas apresenta muitas histórias pessoais. Algumas de sucesso e outras nem tanto. A migração era uma opção difícil e cruel a ser tomada, muitos nordestinos eram de baixa escolaridade ou analfabetos.
Quando os nordestinos chegavam em São Paulo eles encontravam dificuldades para arranjar emprego, não só isso, para muitos deles era complicado acompanhar as nuances da nova cultura local e as formas de produção, que eram cada vez mais industriais. Os migrantes tiveram que enfrentar dificuldades econômicas e discriminatórias, fazer suas vidas sozinhos, muitas vezes sem a ajuda da “autoridade pública”.
Marco Antonio Villa dá espaço para relatos. O leitor vai viajar em trens onde as pessoas ficavam em média sete dias de pé até chegar a São Paulo. Viajará também de “pau de arara”, veículo clandestino que transportou muitos nordestinos, trajeto esse que causou vários acidentes e mortes.
Muitas pessoas foram enterradas na beira da estrada durante a migração. Mulheres esperavam anos pelo retorno do marido, que às vezes nunca voltava para casa. Maridos que retornavam ao lar e depararam-se com a esposa em uma nova família constituída.
Os migrantes tinham que escolher se acostumar com a falta de estrutura e com o “velho coronelato” da região. Eles tinham que escolher em abraçar e acolher a seca. Ou escolhiam partir rumo a São Paulo para tentar uma vida melhor. 'Quando eu Vim-me Embora' dá voz a um povo que precisa escolher entre sofrer muito ou sofrer pouco, mas que só tem o sofrimento como escolha.
A cidade de São Paulo acolheu todos, ou pelo menos tentou. O livro aponta muito preconceito e racismo, mostra uma cidade despreparada para receber tanta gente, mostra uma cidade querendo ser grande às custas da ignorância alheia. No nordeste ainda impera “a velha política”, o estado ainda prefere o atraso cultural de sua população.
'Quando eu Vim-me Embora' embaralha suas narrativas, isso pode ser confuso para algum leitor, mas traz um tema muito importante que não é explorado na história do nosso país. A migração do Nordeste para o Sul, deixa uma mancha de sangue na nossa história, é cruel ler sobre este recorte da nossa história, pois ainda acontece.
Nota: 8
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