Robô Selvagem Crítica Cinematográfica
- Vinicius Monteiro
- 1 de abr.
- 5 min de leitura
★★★★☆
'Robô Selvagem' narra a jornada extraordinária de ROZZUM unidade 7134, carinhosamente chamada de Roz, uma robô que se vê em uma situação inesperada após um naufrágio em uma ilha selvagem e desabitada. Sem memórias de seu passado ou propósito, Roz enfrenta o desafio de sobreviver em um ambiente hostil e desconhecido. A trama se desenrola à medida que Roz, com sua capacidade de aprendizado e adaptação, começa a interagir com a fauna local. Inicialmente vista com desconfiança pelos animais, Roz gradualmente constrói laços de amizade e até mesmo adota um filhote de ganso órfão, demonstrando um lado maternal e protetor.
'Robô Selvagem' tem um tema clássico dos desenhos animados: a história de um robô que se perde em um lugar perigoso, mas descobre que a melhor maneira de sobreviver é ter sentimentos e se conectar com os outros. O mais novo filme da DreamWorks, que é uma adaptação linda de um livro infantil, e foi dirigido pelo mesmo cineasta de "Os Croods", Chris Sanders, segue essa ideia. Ele lembra outros filmes famosos com robôs perdidos, como "WALL-E" e "O Gigante de Ferro", que são considerados alguns dos melhores desenhos de todos os tempos. É um sinal de como este novo filme é bom, com uma história bem escrita e cheia de detalhes, que ele consegue se manter no mesmo nível de filmes tão incríveis.
O filme, criado por Chris Sanders, o mesmo de 'Lilo & Stitch' e 'Como Treinar o Seu Dragão', faz algo muito inteligente e envolvente: quanto mais tempo acompanhamos o robô protagonista, mais percebemos algo fascinante. É como se a programação dele, ao aprender coisas novas – como a inteligência artificial que está na moda hoje em dia –, nos mostrasse a profundidade e a beleza dos sentimentos humanos, aquelas emoções que não podem ser simplesmente programadas ou criadas artificialmente. O legal é que, ao mesmo tempo em que o filme, baseado nos livros de Peter Brown, explora essa ideia, ele também conta uma história super divertida e cheia de detalhes sobre um personagem diferente, que encontra seu lugar em meio a uma turma de animais da floresta cheios de personalidade.
A voz de Lupita Nyong'o eleva a experiência a outro nível. Interpretando a robô Roz, que se encontra sozinha em uma ilha habitada por animais, Nyong'o nos presenteia com uma atuação vocal memorável. Ela começa com a frieza robótica de uma IA, mas gradualmente sua voz ganha nuances de cansaço e vivência, transmitindo a profundidade da sua jornada. Embora o filme tenha momentos tocantes, ele se mantém equilibrado com um humor inesperadamente sagaz, que impede que a emoção se torne exagerada.
O universo de "O Robô Selvagem" é incrivelmente bem construído, parecendo quase uma pintura com suas cores vivas e detalhes impressionantes seguindo a mesma linha de criatividade visual que vemos em animações de sucesso recentes. Filmes como 'Homem-Aranha no Aranhaverso', 'Tartarugas Ninja: Caos Mutante' e 'Gato de Botas 2: O Último Pedido' já nos mostraram essa inventividade, e 'O Robô Selvagem' continua essa tradição com maestria.
A experiência cinematográfica com 'O Robô Selvagem' é marcante desde o início, com uma estética visual que evoca a sensação de estar imerso em uma obra de arte. A descrição do estilo de animação como uma fusão da delicadeza das pinceladas de Monet com a magia dos cenários de Miyazaki captura perfeitamente a sensação que tive ao assistir. A paleta é rica e diversificada, presente em praticamente todos os momentos, o que é ainda mais realçado pela técnica de animação que lembra a textura de uma pintura.
Embora a representação dos animais neste filme de animação possa não ser a mais marcante, a forma como o mundo é retratado é algo inédito no cinema de animação. As paisagens, com seu estilo artístico marcante, são de tirar o fôlego. O pôr do sol, a imensidão do mar e a forma como as estações do ano se transformam parecem saltar das páginas de um belo calendário para a tela.
A câmera do diretor Sanders se move de forma fluida por esses cenários, geralmente mantendo uma certa distância dos personagens. Essa escolha de enquadramento, que coloca o ambiente em destaque, confere às cenas uma sensação quase grandiosa, quase como se estivéssemos observando a vastidão do mundo e o quão pequeno um robô "perdido" e seus amigos animais podem ser diante dele.
O filme também possui uma sinceridade notável, algo surpreendente para uma animação voltada principalmente para o público infantil. Ele mostra, de forma direta, que a morte faz parte da vida e que a fofura não nos protege dela. Em um momento, a gambá mãe de O'Hara começa a falar, orgulhosa, sobre seus filhos. Ela diz: "Como mãe de sete filhos...". De repente, um som de fora a interrompe, e ela corrige rapidamente: "Seis." Esse humor, que brinca com a tristeza de forma leve, demonstra um respeito raro pelo público infantil. Parece que os criadores do filme confiam na inteligência e curiosidade das crianças, algo que nem sempre acontece nos grandes estúdios de animação.
Embora apresente semelhanças visuais e narrativas com filmes como "O Gigante de Ferro", "Avatar" e as obras de Hayao Miyazaki, o trabalho de Sanders se destaca por sua originalidade e profundidade emocional. Acima de tudo, suas metáforas sobre a paternidade e a busca por pertencimento, especialmente a história da adoção de diferentes espécies e os momentos tocantes da maternidade, são incrivelmente marcantes. A jornada pessoal de Roz também é emocionante, enquanto ela tenta entender seus próprios instintos e se desenvolve, transcendendo sua função inicial para se tornar um elemento fundamental em uma comunidade.
Mesmo que a ausência de humanos possa sugerir uma falta de perigo, a ameaça humana ainda paira, de maneira sutil. Assim como na emocionante jornada robótica de Wall-E, da Pixar, o filme "Robô Selvagem" também nos alerta sobre os efeitos silenciosos do consumo desenfreado. Quando os humanos enviam mais máquinas, incluindo um drone com uma voz ameaçadora dublada por Stephanie Hsu, para tentar resgatar a robô Roz, a forma como essas máquinas impactam a natureza exuberante é quase dolorosa de se ver.
Há uma emoção profunda e tocante que emana dessa mensagem sobre o meio ambiente, que se une à jornada de Roz em sua descoberta da maternidade. Embora o filme possa correr um pouco para chegar ao seu final, com um terceiro ato um pouco mais acelerado, os temas abordados nos oferecem lembretes valiosos sobre como dependemos uns dos outros e nos trazem lições esperançosas sobre a importância da comunidade.
Com inteligência, sinceridade e uma capacidade de impressionar que surge com frequência, 'O Robô Selvagem' entrega um tipo de diversão animada que é bem-vinda para todas as idades. Ele tem o poder de encantar as crianças e, ao mesmo tempo, tocar o coração dos adultos, deixando aquela sensação de emoção na garganta. E o filme cumpre a promessa de ser uma animação verdadeiramente grandiosa: ele consegue expressar verdades que valem para todos nós – um amor que não se explica pela razão, sentimentos que vêm de lugares que nem sempre compreendemos, e a sensação agridoce de deixar alguém ir para que possa crescer. Tudo isso é contado através da história de um ser que não é humano. Se todas as histórias sobre robôs tivessem essa mesma visão tão humana e profunda, seria maravilhoso.
Embora a notícia de que já estão trabalhando em uma continuação possa tirar um pouco da sensação de algo totalmente novo, "Robô Selvagem" prova que a animação de Hollywood ainda pode ser muito mais do que apenas uma fórmula repetida. Ele mostra que é possível criar algo que realmente pensa e se conecta com o público.
An intriguing perspective on the wild robot concept. How do you see this technology evolving in the near future? [Online games Free]