Tangências Resenha
- Vinicius Monteiro
- 19 de set. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 14 de dez. de 2024

★★★☆☆
Em 'Tangências', Miguelanxo Prado deixa seu lado sarcástico de lado por um momento para nos oferecer uma visão cúmplice, madura e profunda de relações sentimentais que, por algum motivo, só se concretizam de forma tangencial, imperfeita e limitada. O que faz com que duas vidas, que em um momento se juntaram com grande intensidade, voltem a separar seus caminhos?
'Tangências' traz oito histórias diferentes que, em meio a uma transa, irão terminar seus relacionamentos. Miguelanxo Prado traz diferentes visões e observações sobre o que poderia ser uma relação amorosa e até que ponto ela também não está relacionada com uma memória do passado e com apenas uma vontade de desejo.
O autor traça um padrão em sua obra que pouco se modifica, somente alguns traços ou formas de construir os quadros que mudam, mas sempre a favor de contextualizar uma espécie de universo. Apesar de situações e histórias diferentes, todas levam sempre a um mesmo ponto: a tristeza.
Miguelanxo traz muita nudez, mas bem longe de ser algo explicitamente gratuito, os corpos aqui retratados são extremamente reais e a nudez é muito bem usada na narrativa das histórias. O corpo feminino e seus personagens são retratados sempre com um olhar observador, já os homens, parecem mais preocupados com a vida e sua continuidade.
Aqui os personagens parecem tão apáticos em relação a seus parceiros, por que a maioria deles parece completamente vazio e sem nenhum tipo de perspectiva, talvez nem vontade, de ter algo real e concreto. Miguelanxo Prado usa cores escuras e frias em suas lindas artes que me deixam com uma sensação de incômodo em que reforça uma atmosfera triste e melancólica.
'Tangências' traz uma série de pessoas perdidas, encontradas, incompletas, completas, insatisfeitas, infelizes, alegres. O quadrinho traz aquela sensação de “Eu já conheci alguém assim?”, ou “Eu já fui assim?”. A obra é um apanhado de términos e reencontros de pessoas que quase sempre não estão no mesmo rumo, nem com si mesmas e nem com o outro.
Os diálogos e a escrita da HQ não expressam intimidade alguma, parece que os personagens se relacionam apenas pela necessidade de autoafirmação, ou muitas vezes porque é conveniente ou por puro tédio. Nem todas as histórias aqui são necessariamente assim, já que as temáticas abordadas variam constantemente, bem como a complexidade de cada enredo.
A HQ é uma narrativa sobre narrativas que apenas olham para dentro do âmbito humano, em uma percepção sobre a solidão. Gosto do realismo pessimista de 'Tangências' e seu olhar para os dois lados da moeda da vida, afinal viver é ser feliz, mas também é odiar. Miguelanxo Prado em um autor devidamente marcante para ser conhecido e reconhecido. Seu olhar trágico, porém sereno, sobre a humanidade demonstra uma certa paixão e estudo para compreender porque somos assim.
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