google.com, pub-4979583935785984, DIRECT, f08c47fec0942fa0
top of page

Tintim Os Charutos do Faraó Resenha

  • Foto do escritor: Vinicius Monteiro
    Vinicius Monteiro
  • há 5 dias
  • 4 min de leitura
Tintim Os Charutos do Faraó Resenha

★★★☆☆


A aventura foi originalmente publicada como "Tintim no Extremo-Oriente" no Le Petit Vingtième a partir de 1932, e ganhou sua primeira edição em álbum em 1934. Nessa aventura, Tintim viaja para o Extremo Oriente, quando se vê no meio de uma trama envolvendo uma suposta maldição de um Faraó egípcio e uma gangue de traficantes de ópio. Do Egito a Índia, do mar ao deserto, nosso repórter favorito e seu fiel cão Milu enfrentam perigos e encontram figuras que se tornarão recorrentes em suas vidas...


 

No alvorecer do dia 4 de novembro do ano de 1922, nas profundezas do lendário Vale dos Reis, o renomado egiptólogo britânico Howard Carter protagonizou um achado que ecoaria através dos anais da história da arqueologia. Em um golpe fortuito do destino, e quando as expedições no local já se encontravam em um delicado limiar, marcadas por interrupções impostas pelo fragor da Primeira Guerra Mundial e subsequentes períodos de inatividade desde 1917, o dedicado arqueólogo e sua competente equipe desvelaram ao mundo um tesouro de inestimável valor. Emergindo das areias do tempo, a tumba KV62, que viria a ser identificada como o derradeiro repouso do faraó Tutancâmon, ascendeu instantaneamente ao panteão das maiores descobertas arqueológicas do século XX, perpetuando-se como um testemunho eloquente da magnificência do antigo Egito e da perseverança humana na busca pelo conhecimento do passado.

 

A narrativa de "Os Charutos do Faraó" iniciou sua serialização no suplemento juvenil Le Petit Vingtième em 1932. Tal gênese ocorreu aproximadamente uma década após o marco arqueológico, cuja ressonância ainda ecoava vibrantemente nos círculos científicos e na esfera midiática. A persistente fascinação pública era, em grande medida, alimentada por uma série de eventos lúgubres que acometeram indivíduos ligados à expedição exploratória. Esse cenário propiciou o revigoramento e a ampla divulgação da lendária "maldição do faraó", um espectro de mistério e temor que pairava sobre as descobertas do antigo Egito. Não tardou, portanto, para que o domínio das artes incorporasse essa atmosfera carregada de suspense e potencial para intrincadas tramas e conspirações em suas criações.


 

Emerge em "Os Charutos do Faraó" uma notável inflexão na trajetória narrativa de Hergé, assinalando uma preocupação inédita com a arquitetura de uma trama intrincada, tecida por surpreendentes reviravoltas e sagazes interconexões. Embora um prenúncio dessa inclinação já se insinuasse em "Tintim na América", aqui ela se manifesta com uma nitidez eloquente, demarcando um sutil, porém significativo, afastamento do autor das mensagens moralistas e dos matizes ideológicos que permeavam suas obras primordiais, nomeadamente "Tintim no País dos Sovietes" e, de forma ainda mais acentuada, "Tintim no Congo".

 

Originalmente concebido em preto e branco e publicado pela primeira vez em 1934, o álbum ganharia sua versão colorida em 1955, enriquecendo visualmente a jornada de Tintim que desdobra-se nas exóticas paisagens do Oriente. O autor revisita a temática complexa do tráfico e do crime organizado em sua narrativa, contudo, ao transpor a ação para os cenários do Egito e da Índia, esses elementos criminosos adquirem uma tessitura peculiar, imbuída das nuances artísticas e das tradições narrativas intrínsecas a cada localidade.


 

Observa-se, na trajetória da trama, um notável afastamento das questões político-ideológicas que poderiam subjazer a tais atividades ilícitas. Em vez disso, prevalece uma abordagem que enfatiza a singularidade exótica do Oriente, filtrada através do olhar maravilhado e da percepção de novidade experimentada por Tintim, um reflexo, inegavelmente, da perspectiva do próprio autor diante dessas culturas distantes e fascinantes.

 

A estreia notável da arte e da filosofia estética da ligne claire na obra de Hergé manifesta-se aqui de forma particularmente louvável. A linearidade precisa e a ausência de variações na espessura dos traços que percorrem toda a extensão da narrativa visual adquirem uma ressonância ainda maior, dada a expressividade e o apelo visual intrínsecos aos ângulos de visão e às paisagens escolhidas pelo autor. Essa característica distintiva é ainda mais enfatizada pela aplicação de cores uniformes e saturadas em cada bloco narrativo, conferindo uma potente identidade visual à progressão da história.


 

Em contraste marcante com a ocasional lentidão dialógica observada em títulos como "Tintim no Congo", os diálogos que permeiam esta narrativa específica demonstram uma vivacidade notável, impulsionando o álbum a um ritmo constante de novidades e ação. Tal dinamismo é particularmente enriquecido pela introdução de figuras seminais para a mitologia das Aventuras de Tintim: os icônicos e atrapalhados detetives Dupont e Dupond, e o enigmático Rastapopoulos, um cineasta de fachada que se revela como a mente astuta por trás do cartel de ópio desmantelado pelas perspicazes investigações do jovem repórter.

 

Os inigualáveis Dupont e Dupond, essa dupla de policiais, que já haviam feito uma aparição discreta nas páginas de "Tintim no Congo", assumem aqui, pela primeira vez, um papel verdadeiramente ativo na perseguição ao nosso intrépido herói. Os atrapalhados policiais, em essência, são figuras bufonescas imbuídas de uma confiança ilusória em suas habilidades dedutivas, imaginando-se verdadeiros Sherlock Holmes em ação. Destarte, observa-se uma interessante transição na dinâmica do alívio cômico desta aventura: o protagonismo antes conferido ao perspicaz Milu é agora transferido para esses dois singulares detetives, cuja ineptidão hilária se revela um dos pontos altos da narrativa.


 

Emerge em "Os Charutos do Faraó" um marco inaugural na trajetória de Hergé, assinalando não apenas sua primeira incursão em um patamar de excelência criativa, mas também o prelúdio de uma fase de amadurecimento palpável nas peripécias de Tintim, tanto no que concerne à sofisticação narrativa quanto à depuração estilística. Este álbum seminal irradia a promessa de um horizonte renovado para o intrépido repórter, prenunciando a complexidade e a profundidade que viriam a caracterizar suas futuras expedições.







Opmerkingen

Beoordeeld met 0 uit 5 sterren.
Nog geen beoordelingen

Voeg een beoordeling toe
bottom of page