Veep 6° Temporada Crítica
- Vinicius Monteiro
- 11 de abr.
- 4 min de leitura
★★★★☆
Na sexta temporada de 'Veep', acompanhamos Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus) em sua vida pós-presidência. Após a derrota nas eleições, ela tenta se adaptar à nova realidade, conciliando a vida pessoal com atividades públicas, como serviços voluntários e aparições em eventos. A temporada explora as dificuldades de Selina em lidar com a falta de poder e influência, enquanto ela busca novas formas de se manter relevante. Sua equipe, composta por personagens como Gary (Tony Hale), Amy (Anna Chlumsky) e Dan (Reid Scott), continua ao seu lado, enfrentando os desafios e as situações cômicas que surgem no dia a dia.
Ao receber o prêmio de Melhor Atriz no Emmy Awards deste ano, Julia Louis-Dreyfus proferiu uma observação perspicaz: "Nosso programa começou como uma sátira política, mas agora se assemelha a um documentário sóbrio". A referência, é claro, era a Donald Trump, cuja ascensão à presidência e subsequentes controvérsias pareciam ter sido extraídas diretamente do enredo de Veep, a série da HBO na qual Louis-Dreyfus interpreta Selina Meyer, uma política autodestrutiva. Contudo, a ficção, ao contrário da realidade, geralmente se vê compelida a manter um verniz de plausibilidade.
Ao longo de suas cinco temporadas "Veep" consolidou sua reputação como a série de televisão mais precisa em retratar o cenário político, conforme atestado por aqueles que o vivenciam: políticos e seus assessores. A série apresenta Washington como um reduto de manobras evasivas, gerenciamento de crises, dinâmicas disfuncionais, incompetência autoinduzida, gerenciamento de imagem desastroso e um vocabulário repleto de obscenidades de teor escatológico.
"Veep", em sua essência, sempre se dedicou a uma exploração profunda da frustração do desejo. Ao longo de três temporadas, Selina Meyer pairou no limiar de sua ambição suprema, enquanto a acompanhávamos em sua luta incansável para ascender da vice-presidência à presidência. Contudo, quando finalmente alcançou o poder, a vitória se revelou amarga e incompleta. Muitos questionaram a legitimidade de sua presidência, já que ela nunca havia conquistado uma eleição no topo da chapa. Nas duas temporadas subsequentes, Selina foi alvo de uma avalanche de ataques e intrigas, que a impediram de se sentir verdadeiramente em casa na Casa Branca. A ironia cruel era evidente: mesmo quando seus objetivos se concretizavam, o sabor da conquista se dissipava entre os dedos.
O desfecho da quinta temporada expandiu essa temática de forma dramática e perspicaz. Após perder a reeleição, Selina se deparou com uma reviravolta irônica: a possibilidade de reassumir a vice-presidência. No entanto, ela se viu relegada à periferia de Washington, D.C., tanto literal quanto figurativamente, sem um caminho claro de retorno à arena política. Sua carreira, outrora promissora, parecia ter chegado a um beco sem saída, e o futuro de uma política de carreira se tornava uma incógnita sombria. Ao conduzir Selina a esse ponto de inflexão, os roteiristas abraçaram a ousadia narrativa, afastando "Veep" do conforto da previsibilidade e trilhando o caminho mais árduo em busca do sucesso.
A sexta temporada da série desafia as expectativas, marcando uma ruptura drástica com o status quo anterior. A equipe, outrora unida pelo frenesi da política, se dispersa, e os arcos narrativos se expandem para explorar os personagens em um contexto pós-Selina. Sem revelar detalhes cruciais sobre o destino da equipe de Meyer após a derrota eleitoral, é seguro afirmar que a dinâmica do grupo sofre uma transformação radical. Cada membro trilha um novo caminho profissional, com resultados que variam em semelhança com suas antigas funções. Alguns laços persistem, com Selina mantendo a lealdade de figuras-chave como Gary (Tony Hale), enquanto o congressista Jonah Ryan (Timothy Simons) recruta ex-membros da equipe para seus próprios propósitos.
A nova temporada de "Veep" se destaca por sua ousadia em trilhar novos caminhos, distanciando-se da fórmula consagrada que a conectava diretamente à política interna de Washington D.C. Em vez de explorar as intrigas palacianas e as campanhas eleitorais que marcaram as temporadas anteriores, a série opta por um mergulho no futuro, reinventando-se sem se apegar ao passado.
A ambição de Selina Meyer em retornar à presidência, outrora o motor da narrativa, agora se revela um anseio inatingível, um beco sem saída para os roteiristas. A decisão de não permitir que ela retorne ao Salão Oval, onde já exerceu o poder, abre um leque de possibilidades, impulsionando a trama para territórios inexplorados. A ausência da presidência se torna um catalisador para a criatividade, impulsionando a série para um futuro incerto e promissor.
"Veep" transcende a mera sátira política, imergindo em um universo onde a sede de poder e a ausência de princípios definem o panorama. A série se destaca por sua narrativa original, que se recusa a recorrer a eventos históricos para gerar humor. Essa abordagem, além de preservar a integridade da criatividade do programa, evita a gratuidade, mantendo a relevância da trama sem a necessidade de explorar manchetes do passado.
A incerteza que paira sobre o futuro da série reside na capacidade de "Veep" em manter seu brilho como uma comédia centrada em uma ex-presidente que, em sua decadência, busca desesperadamente resgatar a relevância na vida civil. Contudo, há um forte indício, e para o deleite dos fãs, de que Selina logo retornará ao seu habitat natural: a arena política, disputando algum cargo de destaque nacional. "Veep" atinge o ápice de sua genialidade quando sua equipe, ao mesmo tempo unida e dividida, mergulha no caos das campanhas. Que as intrigas e os embates recomecem, portanto. Os impropérios, marca registrada da série, já estão devidamente estabelecidos.
O humor da produção, habilmente construído, triunfa sobre essa premissa inquietante, pois os personagens, invariavelmente, sucumbem ao fracasso, e essa derrocada se revela tanto hilária quanto reconfortante. "Veep" age como um lembrete constante de que o riso é uma válvula de escape legítima, uma forma de desmistificar a realidade política. Assim, a sexta temporada da série mantém a tradição: o infortúnio de Selina se traduz em deleite para o público.
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