Vinland Saga Volume 26 Resenha
- Vinicius Monteiro
- há 3 dias
- 3 min de leitura
★★★★☆
Vinland Saga Volume 26 marca mais um passo importante na jornada de Thorfinn e seus companheiros rumo a Vinland. Após as aventuras em Helluland e Markland, o grupo finalmente encontra um local promissor para estabelecer seu novo lar. Os Mi'kmaq, povo nativo da região, observam os recém-chegados de longe, avaliando suas intenções. A tensão cresce, e o futuro da comunidade recém-formada é incerto.
A magistral narrativa de Makoto Yukimura eleva a saga da Noruega e os primórdios da colonização nórdica em solo americano a uma estatura épica singular. Distanciando-se da focalização individual ou em pequenos grupos, característica de obras como "Berserk" e "Vagabond", "Vinland Saga" expande seu escopo para abranger a complexidade do estado, as nuances da sociedade e a profundidade da experiência humana em coletivo. Com rigorosa precisão histórica e meticulosa pesquisa, a obra desvela um panorama cru e visceral de violência, conflitos bélicos, intrigas políticas, a brutalidade da escravidão, a astúcia do engano e as multifacetas da condição humana.
O vigésimo sexto volume desta odisséia gráfica descortina um cenário fascinante, imergindo o leitor nos hesitantes primeiros passos da civilização. A comunidade, imbuída de um espírito colaborativo, empenha-se na árdua tarefa de edificar as estruturas essenciais para o florescimento da agricultura, alicerce de sua subsistência. A este esforço fundacional soma-se o evento de profundo significado: o primeiro contato com os povos nativos. Esta interação inaugural prenuncia, com sutil delicadeza, tanto as promessas luminosas quanto as sombras inquietantes que o futuro reserva.
Contudo, a excelência de "Vinland Saga" transcende a mera representação da gênese de uma sociedade. Seu triunfo reside, sobretudo, na exploração exaustiva dos conflitos internos que assombram seus personagens. A jornada de Thorfinn, a luta incansável de um homem para transmutar-se em um ser desprovido de inimizades, para conceber uma nação imune à guerra e para acalentar o sonho de uma sociedade liberta das correntes da escravidão, ecoa com uma ressonância profundamente humana. Nascido no seio de uma das culturas mais violentas e em um dos períodos mais turbulentos da história, impulsionado por décadas pela fúria cega da vingança, o ideal que Thorfinn persegue – ou ao menos tenta alcançar – configura-se como o próprio epítome da aspiração humana à transcendência.
Este volume específico serve de palco para o brilho multifacetado de diversos personagens, cujas evoluções narrativas se revelam surpreendentes e impactantes. O reencontro de Thorfinn e Rei Canuto em um flashback, habilmente inserido na trama, deleita o leitor, testemunhando a persistente capacidade de Thorfinn em surpreender o monarca. As interações com os nativos, permeadas por um humor inteligente e sagaz, têm em Bug Eyes seu improvável e eficaz diplomata. A doce notícia de Thorfinn e Gudrid tornando-se pais pela segunda vez irradia um calor genuíno, enternecendo o coração do leitor.
Um momento de particular destaque neste capítulo da saga são as visões proféticas de Miskwekepu'j durante seu ritual ancestral. Através de seus olhos, vislumbramos um panorama sombrio da história da humanidade, pontuado por guerras atrozes, a devastação da bomba atômica, a ignomínia da escravidão, a propagação de doenças e a implacável destruição da natureza. Esta sequência, de profunda carga reflexiva, evoca uma meditação sobre o progresso ambivalente da civilização. Embora inegáveis avanços tenham sido alcançados, a sombra do passado parece pairar persistentemente, sugerindo uma tendência autodestrutiva intrínseca à jornada humana.
Nos derradeiros instantes deste volume, Hild finalmente concede seu perdão a Thorfinn, em uma cena de intensa carga emocional. Este ato libertador representa a deposição de um fardo pesado para ambos os personagens, marcando um ponto de inflexão significativo em suas trajetórias. Em sua essência, "Vinland Saga" transcende o gênero da aventura épica, configurando-se como uma profunda exploração do desenvolvimento do caráter, do poder redentor do perdão, do peso do arrependimento, do significado do sacrifício e da busca incessante pela redenção. É uma narrativa que perscruta a tênue luz no fim do túnel, que exalta o valor intrínseco da vida em meio à onipresença da morte e que nos ensina a encontrar a resiliência da esperança mesmo nos recantos mais sombrios da existência.
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